22 de março de 2010

O “SONHO” QUE JOSÉ NÃO SONHOU

Sempre refleti muito sobre a questão dos sonhos. Sempre sonhei muito. Alguns sonhos até tomavam formas, se materializavam. Nessa época cheguei até a consultar manuais de sonhos, o que não faço mais por entender que a maioria dos nossos sonhos, refiro-me aos sonhos que temos quando dormimos, são reflexos de nós mesmos ou percepções que temos do ambiente em que estamos envolvidos, às vezes lembranças do passado, em outros casos podem ser “sonhos” de Deus em nossas vidas, ou melhor, uma forma de Deus se comunicar conosco. Tem quem sonhe também por causa da barriga cheia, kkkkk, depois de um cochilo após uma boa feijoada.

Os sonhos fazem parte de nosso dia a dia. Sempre sonhamos, diz a ciência, mesmo quando não lembramos, sendo considerado um importante mecanismo psíquico de recompensa e punição (Super Interessante – Por que sonhamos?).


Assim essa questão de sonhos sempre esteve muito presente em mim. Ao encontrar na leitura bíblica a figura do jovem Jose e seus “sonhos”, logo me iludi de que os sonhos de José, eram os seus sonhos. Mas não eram.

José “sonhou” não por que foi dormir depois de um belo cozido de carneiro, ou por causa do ambiente e percepções ao seu redor e nem por lembranças passadas. José sonhava deste menino e sempre os mesmos sonhos com os mesmos significados. Não houve quem interpretasse tais sonhos. Eles só se revelaram quando tomaram forma e se materializaram em sua vida.

Por quê? Ora os “sonhos” de José não eram sonhos, mas sim revelações de Deus acerca do que Ele, Deus, estava para permitir na vida de José. Não era sonho, era real ainda antes de ter acontecido.

Deus não estava inflando José com percepções de si mesmo ou das coisas que o cercavam. Eram instruções acerca do futuro do próprio José.

Aqui então não cabe aquela máxima: não desista de seus sonhos, pois não eram sonhos. José iria passar por aquilo tendo “sonhado” ou não. Era o seu destino, seu caminho. Deus apenas lhe antecipou o que estava para acontecer, sem lhe revelar, é claro, os pormenores.

José seria motivo de desconfiança de seus irmãos e até mesmo de seu pai. Apenas sua mãe considerava os fatos e guardava no coração. Assim José foi traído por seus irmãos, vendido como um animal, dado como morto, escravizado, passado para trás, assediado, preso, esquecido, abandonado, mas nunca esquecido por Deus. Tudo isso estava no pacote dos “sonhos” de José mas se ele soubesse, talvez nunca teria se tornado a segunda maior autoridade no Egito depois do faraó.

Imagina agora alguém dizendo a José: não desista de seus sonhos de ser perseguido, humilhado, vendido, esquecido, dado como morto, etc. José só conhecia o filé da história, rsrsrs, que algo grande e fora de seu controle estava para acontecer, sem saber quando, onde e nem o porquê. Assim buscou viver cada dia conforme a sua própria história ia se desenrolando, sem saber ao certo no que ia dar e nem os motivos.

Só quando seus irmãos e pai foram ter com ele foi que pode entender que aquilo tudo era a mão do Senhor sobre a sua vida. José se tornou um Oasis para o povo de Israel no meio do deserto.

Agora se José tivesse acesso aos pormenores sobre o seu futuro, logo teria dito que Deus havia lhe avisado que algo horrível estava para acontecer com ele. Sua atitude imediata seria logo repreender todo aquele mal.

Concluo que José “sonhou” um sonho que não era seu. Nem era sonho. Era fato-verdade que já existia antes mesmo de José existir. Era caminho a ser percorrido e que caso ele tivesse como saber, certamente faria o possível para evitar tal caminhar.

Creio que não foi um mar de rosas e que ele estivesse sempre jubiloso com os acontecimentos. Sua dor ao encontrar com seus irmãos revela as angustias que o acompanharam. Seu perdão mostra que não há limites para que perdoemos os que foram falhos conosco, pois nem ele sabia que assim seria e que seria a vontade de Deus sobre ele e sobre o povo de Israel.

Não é sábio questionar a Deus sobre o que acontece e nem pedir-lhe esclarecimentos. Pode ser que Ele não esteja a vim de dizer. Como? Ora, José interpretou os “sonhos” de muitos, mas ele mesmo não discerniu os seus. Só teve entendimento quando eles passaram a existir como realidade em sua vida.

Não digo que Deus trás o mal sobre os homens, mas está com eles nos vales de sombra e de morte e que se caso crermos nEle, seremos conduzidos por tais vales e encontraremos um Oasis no fim do percurso.

Há eventos em nossas vidas que dependem sim de nossas atitudes, mas como no caso de José, não.

Olhe para o alto, acima dos montes, como diz o salmo, e confia em Deus e reconhece-o em todos os seus caminhos, ainda que sejam caminhos de dor, ainda que o sonho seja um pesadelo, pois isso vai passar e o que nos reserva será sobremodo elevado.


8 de novembro de 2009.
Délio.

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