6 de janeiro de 2008

A MISERICÓRDIA DE JESUS

A lepra era uma doença incurável na antiguidade e o povo hebreu recebeu diretamente na Lei de Moisés todas as prescrições que tratariam do assunto desde o diagnóstico até o triste destino reservado aos párias por ela contagiados. Nunca vi um leproso. Mas já li e ouvi casos horríveis (tecidos apodrecem, membros se perdem) é uma doença cruel ! Hoje a hanseníase (designação atual da doença) tem cura e com um comprimidinho em duas horas já não é mais contagiosa e os meios de comunicação sempre divulgam da "mancha indolor" com uma simplicidade que diminui muito o preconceito que secularmente sobre ela pesava.
O tabu era tal que quando Deus quis punir Miriã irmã de Moisés, Uzias rei de Israel e Geazi servo de Elizeu (ambos de alguma forma ligados ao orgulho, rebeldia e cobiça !), usou a lepra. Também Isaías descrevendo a deplorável situação espiritual e moral de Israel disse que eram como leprosos. O que a medicina faz hoje (se for no estágio inicial da doença), era tido como um verdadeiro e incontestável milagre no passado (Naamã, dez leprosos,etc). Ter lepra era não ter nada. Nada de família, de amizade, de convívio social, direitos, bens...a pessoa era obrigada a viver afastada da sociedade numa espécie de colônia onde encontravam-se outros desventurados como ela. Era comum jogarem pedras para "enxotá-los" e até se "p-o-r-um-milagre" sua sorte mudasse teriam de ter um aval institucional (médico-religioso no caso do sacerdote), para voltar ao convívio social. Basta lembrar que leprosos jamais poderiam entrar no templo.
Um dia Jesus sob o Monte, dá a sua mensagem (o sermão da montanha), todos babando por Ele, querem mais, seguem-no e...um abusado (no sentido de ultrapassar os limites), inconsequente (e se ele contamina alguém ?), para na frente de Jesus (quem ele pensa que é ?) e se atreve a dizer: " Mestre, eu sei que você pode me curar se quiser" (tá louco ! Só muito doido prá se atrever a tanto. Ou... muito desesperado). Pior que Jesus é ainda mais radical, "Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: Sim, eu quero. Você está curado". Meu Deus ! O homem tá com a faca e o queijo na mão. Começo de ministério, ficando popular, a obra ta crescendo, todo mundo com ele...de repente põe tudo em risco tocando num cara daquele, desconhecido, marginal, problemático. E o escândalo ? E a missão ? E a credibilidade ? E o nome ? Pensando bem talvez fosse um enviado de satã só para ridicularizar a obra. Mas tudo bem. Era só curar! Era só falar como ele tinha feito tantas outras vezes e deu o mesmo resultado. Tinha que por as mãos nele ? A resposta é: tinha.
Aquele homem, marginalizado, excluído, ameaçador, tinha uma ferida profunda, muito mais profunda que aqueles que cobriam seu corpo. Nunca mais tinha sido tocado. Nem podia tocar ! Só de longe ! Não encosta, não chega perto, não abraça, não beija, não aperta a mão, não acaricia nem face, nem cabelo e nem tampouco é acariciado.
Me lembrou o missionário da Jocum que ministrando um culto na praça passa um travesti e começa a zombar dele. Então ele larga o microfone e corre atrás daquele rapaz, agarra-o, gruda seu rosto no rosto dele, aperta-o com firmeza apesar do outro veementemente tentar se livrar ao que ele mais firmemente aperta, o batom suja seu rosto, seus cabelos longos e artificiais enroscam nos do missionário, a resistência vai diminuindo, e o rapaz sai chorando, quebrantado pelo amor no meio da praça. Também me lembrei dos tempos do Universidade Solidária, quando nas férias de verão centenas de estudantes saíam pelas regiões mais pobres do país para aplicarem seus conhecimentos voluntariamente, e no sertão baiano, fotos prá todo lado, uma moça para a equipe e de vassoura na mão no meio da rua pede "tira uma foto de mim", por que, pergunta o coordenador da equipe, "por que ninguém nunca tirou uma foto de mim". E se querem saber, ela não era bonita.
A lista é quase infinita se sairmos dos doentes e feios, e formos outros marginalizados criminosos ou não (religião, posição social, orientação sexual, etc).
Nessa galera dos sem chance, nunca mais, cabô prá você...os que estão sedentos ou desesperados demais para se acomodarem, as vezes podem nos chocar, atropelar, invadir nosso caminho e desafiar nossa misericórdia publicamente como o leproso fez com Jesus (se você quiser...). Mas, apesar de aparentemente brutos, com a compaixão e paciência de Jesus veremos o seu desespero e minha esperança é como Jesus disse os que foram muito perdoados muito amam.

Jefferson
Vitória
04/01/08

2 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito Jeferson. Tocante esse texto e me fez pensar sobre muitas coisas.

Délio Visterine disse...

Realmente as misericordias de Deus não tem fim. O duro é que muitos não entendem mais isso hoje. Muitos tem si tornado insensíveis. Muitos clamam por misericódia mas não agem com misericórdia para com o seu próximo. Preferem os sacrifícios pagãos do que a misericódia de Jesus. Os dez leprosos são uma prova disso. Todos foram curados, apenas um voltou. Mas de forma alguma Jesus lançou algum tipo de maldição sobre os nove ingratos. Com toda a sua ingratidão, os nove continuaram curados. Mas tem gente que especula o que deve ter acontecido aos nove leprosos curados. Porém que possamos ser como aquele que voltou e prostando-se agradeceu, pois grande é a misedicórdia de Deus por nós. E assim como Ele, devemos nós também sermos misericordiosos.